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A Crise Grega

A crise de 2008 e o seu legado.




Quem poderia imaginar que a matriz cultural do ocidente pudesse ser de tal forma atingida pelo efeito colateral da crise financeira dos subprimes?

Berço do mundo, próceres da democracia, reis do pensamento racional, criadores da noção de beleza e da filosofia, um dos povos que mais influenciaram a humanidade se vê agora prostrado sobre o peso de seu déficit público acumulado durante anos de descontrole fiscal e dificuldades em quitar os credores internacionais.



O quadro acima é também reflexo de um crise anterior em que a busca desenfreada por lucros por parte dos bancos norte-americanos inflou a bolha imobiliária redundando na onda de quebras, pedidos de concordata e bancarrota de empresas e seguradoras mundiais sem contar o desdobramento para o resto do mundo, que ligado pelas redes de comunicação financeiras foi arrastado para o fim do poço com os americanos.



O fato é que para retirar o mundo da crise os governos se viram forçados a injetar maciças doses de dinheiro público como forma de restabelecer a solvência dos mercados e trazer de volta ao sistema creditício a confiança dos agentes econômicos.



Em alguma medida, a maioria dos países empreenderam alguma política para salvar suas economias, ocorre que, mesmo antes da crise das subprimes,algumas economias já não andavam em boas condições de equilíbrio fiscal.Neste sentido,países europeus,à margem da comunidade européia,como Grécia,Portugal e Espanha tiveram que se endividar ainda mais para sair da crise.



Agora a Grécia dá sinais de que não poderá quitar os seus débitos para com os credores internacionais. O perigo do contágio financeiro existe, pois estamos diante de um problema que se passa dentro de uma comunidade econômica e monetária que se for impactada irá necessariamente refletir NO MUNDO pelo peso exercido por suas transações com outras regiões e outros blocos de integração econômica.



O medo de calote de outras economias que também enfrentam dificuldades com suas contas levou a hipótese de dissolução da UE com a saída da zona do Euro de países como a Espanha, Itália, Portugal e Irlanda. Considero que nenhuma hipótese poderia estar mais desconectada da realidade. A UE sabe que para além do comércio está um projeto político de modo que será muito improvável que sejam deixadas de lado, a importância estratégica da união por uma maior saúde econômica. Ou seja, lá não haverá motivo para que a economia desfaça os sucessos que se deram na área política.



O que mais fascina nesta turbulência dos mercados é o seu grau de interligação e de interdependência. À medida que a fragilidade das contas grega era publicada o mundo tornava-se mais nervoso.As bolsas de valores, verdadeiros símbolos da globalização e materialização constante da era da tecnologia informacional,transferem entre si o nervosismo de evasão de capitais dos mercados nacionais.Os investidores ficam receosos de colocarem suas riquezas em países que,pelo volume da dívida,dificilmente honrarão seus compromissos,assim as empresas são afetadas pela falta de investimento afetando,no médio prazo,o mundo real da economia.


Diante da possibilidade do efeito dominó, as pressões da UE e do FMI para resolver o problema dos gregos se deram em torno do arrocho fiscal grego em troca de empréstimos europeus.A grande preocupação é implementar as políticas de reajuste econômico do FMI e da própria EU entre as quais figuram a redução de gastos públicos,o aumento da taxa de juros,o corte salarial do funcionalismo público e o aumento da faixa etária para a aposentadoria.As reações a estas medidas foram recebidas com fortes protestos por parte da população.

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