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AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS COMO UMA CIÊNCIA NORTE-AMERICANA

Maquiavel, Tucídides, Hobbes, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Clausewitz, Grotius entre outros,tentaram por diferentes perspectivas compreender os conflitos entre os Estados.Neste intento, acabaram por legar um conjunto teórico no qual a Guerra ocupa papel central.

Muito embora, a história seja testemunha ocular da envergadura das teorias destes pensadores, o campo de Relações Internacionais assumiu identidade e institucionalidade deixando de ser uma questão meramente político-filosófica para se tornar um objeto de conhecimento cientifico, apenas durante o início do Século XX, mais precisamente, após o término da I Guerra Mundial (1914-1919).

A catástrofe da I Guerra Mundial foi marco histórico, que impulsionou os formuladores de estratégia a se preocuparem em formular um campo específico de estudos sobre Estados e as causas de conflitos entre eles.

Essa busca por uma melhor interpretação do campo internacional levou alguns governos a investirem em ensino e pesquisa. São exemplos clássicos a universidade de Gales que em 1919 deu estatuto acadêmico com a criação da cátedra Woodrow Wilson, o Royal Institute of Internationals Affairs (Inglaterra) e o Council of Foreign Affairs (EUA).

Não obstante,o estabelecimento de cátedras e instituições acadêmicas nos EUA e na Europa, o campo só veio a trazer inovações teóricas a partir da II Guerra Mundial em virtude do predomínio político-econômico-tecnológico e militar dos EUA. Com efeito, alguns especialistas, não sem razão, categorizam as Relações Internacionais, como um campo da “Ciência Norte Americana”. A atitude americana, contudo, foi produto de um conjunto de considerações geopolíticas e históricas aliadas à uma visão de manutenção do poder e projeção de influência, em caráter mundial, estabelecidos pelo Estado norte america. Assim, há que se considerar que para fazer frente à ameaça político ideológica que significava a União Soviética ante os interesses americanos  investiu se na especialização de um corpo burocrático que pudesse auxiliar as tomadas de decisões da política externa norte americana através do entendimento da dinâmica internacional.

Até hoje, não é raro ouvirmos a expressão sovietólogo (a ex chefe de Estado Condolezza Rice), sinólogo ou brasilianistas, bem como especialistas em negociações internacionais, especialistas que se formaram nas escolas americanas. Além disso, os Estados Unidos conseguiram criar uma ciência que se constitui dentro da Ciência Política e não dentro de suas Escolas Jurídicas e deste modo, estabelecer um diálogo, muito produtivo entre Academia e Estado.

Em resumo, a história da criação e do desenvolvimento das Relações Internacionais nos EUA permitem concluir que essa é uma área estratégica para a manutenção do status quo e que como tal deve prover ao Estado análises sobre o entendimento do sistema internacional para que com base nisto os países possam promover seus interesses no mundo.


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